Foto: Department of Spanish & Portuguese - University of Wisconsin – Madison
SEVERINO JOÃO MEDEIROS ALBUQUERQUE
( Alagoas – Brasil )
Maceió-AL, 1952). Poeta e professor de Literatura, ganhador do Prêmio de melhor apresentador no Festival de Poesia Falada do Nordeste. Publicou: ‘Exercício: Exercícios’ (1975) e participou da coletânea ‘Poetas Alagoanos’.
[ CAVALCANTI, Valdemar, org. ] 14 POETAS ALAGOANOS . POEMAS ESCOLHIDOS. Maceió: Edição do Departamento de Assuntos Culturais da Secretaria de Educação e Cultura, 1974. 44 p. 14 x 20,5 cm.
Ex. doado pelo livreiro José Jorge Leite de Brito
DO TUDO E DO NADA, MUITO POUCO
1
do tudo se do nada muito pouco ou quase tudo
e nada me é estranho
se palavras mágicas e vidas partidas não levam ao tudo,
estrelas e luzes ao se apagarem
trazem o nada (só o nada)
para me envolver em revoltas
contra deuses englobadores de um ser abandonado
ao sabor de saber
um pouco de nada e um muito de tudo.
2
se um sólido tudo
e extravasa o nada,
o quase muito pouco deixa o verso t negando a dúvida do nada
atingindo a reversão do tudo
e invertendo minha volta ao leito enluarado
onde só e rodeado de luz e lar
abraço a insensatez do respirar
e aperto a abstração do viver
isolado de uma multidão geométrica tantas vezes lastimosa.
3
cinco sábios de natural existência bastam como apoio
contra o degradante Nada
que os pântanos de Tudo repletos
tentam engolir meus pés pensantes passantes.
(os olhos procuram os pés e tentam guia-los pelo branco brisa;
as marcas que vão ficando à frente o olhar não pode apagar.)
4
carregando a maldição do passado acelerante
e vibrando na dependência de um ouro concêntrico,
sigo,
cego e infinito,
as pegadas estéticas de um semi-deus
esculpido em morte, circo e incoerência.
da inconstância de uma engrenagem acre e fria
retiro a força de reinante Tudo
aceito o triunfo da conformação
bebo a ingratidão do sal
e recebo a vitória do direito
direto em meu peito aberto e nunca atento
às armadilhas maravilhas de um antimundo imundo.
(eu durmo e os anos sonham que eu afundo, os anos flutuam
e eu grito o que os anos calam, os anos cantam o que eu aceito
e eu choro o que os anos desprezam. eu estou e os anos são.)
5
rendo parte de uma parte desunida,
vivendo e obedecendo a um todo,
sentindo as leis inversas,
volto arrastado pela força de uma conjunção crescente.
pois antes das perguntas e das dúvidas estavam as respostas.
e depois do medo e do terror
e tudo e o nada estavam além das batalhas.
apenas estavam lá
´( i n q u e s t i o n á v e i s )
lá no lugar de onde brotaram
e ficaram em quase vapor
até se chocarem com a igualdade e relatividade.
6
tentando encontra o que talvez não tenha perdido
ou o muito pouco que não tenha encontrado
eu quis chegar perto da janela onde o tempo parou
e ficou olhando para mim
fixamente.
o haver de revelações impedia a propagação
de um som (próximo e surdo, quase um grito)
para meus sentidos tão estranho por ter das grades
a simetria e dos corredores a profundidade.
*
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Página publicada em janeiro de 2022
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